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            Ermida do Paiva, Castro Daire, 9 de junho de 1968 – De todas as vezes que a inquietação me lança em correrias aventurosas pelas estradas de Portugal – e hoje o estirão foi de respeito! – , não é da paisagem, por mais empolgante, que recebo a principal recompensa. É de qualquer manifestação singular do espírito criador que vou descobrindo aqui e ali. O que acontece precisamente agora.

            Depois da agressão violenta das serras de Arouca e das ravinas do Paiva, repouso os olhos nos capitéis deste relicário de dois frades solitários de ordem premonstratense, onde o cósmico terrestre dá simbólica expressão à eternidade celeste. E oiço não sei que voz segredar-me à alma a palavra que tão necessitada anda: – vale sempre a pena erguer uma capelinha românica no meio dos maiores ermos. Nunca deixa de aparecer um peregrino sensível a admirar-lhe a pureza e a significação que tiver…

 

in Miguel Torga, Diário Vols IX a XVI

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